segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pequena Epopeia

Meu passaporte chegou do Consulado Americano.Ufa! Conseguir o visto de tripulante não foi uma tarefa fácil para mim.


Foto: Katiane Rodrigues
No dia três de junho, me programei para ir ao Rio de Janeiro às 7h50, em um voo da Avianca.  Meu horário no consulado era às 14h. Recomenda-se chegar com uma hora de antecendência. Cheguei ao Aeroporto de Guarulhos às 7h. O tempo estava fechado. O aeroporto também. Todos os voos programados para aquela manhã cinzenta estavam atrasados.  Não havia muito o que fazer. Me sentei no chão - também não havia cadeiras disponíveis - para ler Crime e Castigo, escrito por Dostoiévski. Bem, não consegui me concentrar no livro, porque o rapaz que estava sentado na cadeira ao meu lado estava ansioso batendo o pé no chão. Toc toc toc. E aí eu percebi que estavam todos ansiosos e resolvi gravar O Diálogo dos PésComo é difícil esperar, especialmente quando se tem horário marcado em um consulado. Depois de uns quarenta minutos de espera, uma voz anunciou que o meu voo havia sido cancelado “por motivo de manutenção não programada”. Fui parar em Congonhas, e tive de embarcar no avião que partiria às 12h55. Às 13h15 a aeronave ainda estava no aeroporto. No consulado, me esperariam até as três da tarde. Isso graças à Tatiana, da Infinity Brazil, agência que faz o recrutamento de pessoas para trabalhar em cruzeiros (Obrigada pelo empenho, Tati!). O avião chegou ao Rio às 14h30. 
Quando liberaram o desembarque, corri, literalmente, até o ponto de taxi. Cheguei ao prédio da Infinity no Rio às 14h50. Precisava pegar uma carta para entregar ao consulado. A agência estava fechada. Fechada! Fui para o consulado sem a carta. Cheguei lá pontualmente às 15h. Na entrada, uma placa advertia: É proibido entrar com o celular. Mal entrei e já tive que sair. Bem ao lado do prédio há uma barraca para guardar objetos. O senhor me cobrou R$ 4 para deixar o meu celular. Tentei entrar pela segunda vez no consulado e mais uma surpresa. Eles encontraram uma pinça em minha mochila e também me avisaram que minha máquina fotográfica, bem escondida na bolsa, não poderia entrar. A contragosto, voltei ao guarda-volumes para deixar minha máquina, a pinça e mais R$ 4. O pessoal do consulado foi muito gentil comigo, e as atendentes bem que tentaram, mas eu não consegui ser atendida naquele dia, por causa da bendita carta. Sem a carta da empresa (que eu pegaria na Infinity, que estava fechada, lembram-se?) eles não me entrevistariam. Eu implorei, quase chorei, expliquei que eu vinha de longe, mas não teve jeito. 
Das 15h30 às 16h30, fiquei do lado de fora do consulado, em pé, aguardando a resposta de uma das atendentes, que estava tentando remarcar a minha entrevista para o dia seguinte. Depois de uma hora de espera, me disseram que sim, que eu poderia voltar no dia seguinte com a carta. Mas a moça me alertou “se você não chegar no horário e não trouxer a carta, vai ficar queimada”. Eu saí de lá transtornada. Muita coisa errada para um dia só. Não era possível, eu não estava acreditando.  Sempre otimista, eu estava esperando por um milagre naquele dia. Algo extraordinário. Uma surpresa agradável. Algo que compensasse aquele dia difícil.  Avisei minha família e fui para o hostel Sun Rio, no Botafogo. É um lugar aconchegante. E a diária em quarto compartilhado custa R$ 35. Fui dormir às 20h, pela primeira vez em anos. E essa foi a melhor parte do dia. O milagre pelo qual eu estava ansiosa.
Tive pesadelos durante a noite. Sonhei umas três vezes que eu tinha perdido o horário. 
No dia seguinte, acordei às 8h. Tomei café da manhã com calma naquela quinta-feira. Algo raro. Cheguei ao consulado às 13h30 e a atendente me chamou pelo nome e foi logo me dando uma senha. Eu estava um pouco nervosa, porque no dia anterior conheci duas pessoas, encaminhadas pela Infinity também, que tiveram o visto pré-negado. Eles teriam de voltar na quinta-feira para saber se conseguiram ou não o ok para entrar nos Estados Unidos. O entrevistador era um americano alto, loiro, de olhos azuis. Usava óculos. O diálogo fluiu naturalmente. Nome, idade, o que vai fazer, por quê? Depois ele disse que eu teria de esperar, porque o sistema havia parado de funcionar. Ele, não sei se o nome era Paul ou John, usava a pulseira do equilíbrio. Perguntei se ele sentia alguma diferença. Ele disse não. “É um presente da minha esposa, então, para manter a paz, eu prefiro usar”, ele confessou. “Bom marido”, eu disse.  “Acho que deve fazer a diferença para quem acredita, mas se você não acredita no efeito da pulseira, ela não deve funcionar mesmo”, eu conclui. Ele disse que eu tinha razão. E aí o sistema voltou a funcionar. “Muito bem, seu visto foi aprovado”. 
Foi um alívio tão grande. Não sei como explicar. Um detalhe: ao longo da entrevista o John ou Paul me perguntou umas três vezes a data em que eu pretendia ir para os Estados Unidos. Não precisei mentir. 
Àquela altura, eu estava tão cansada que não consegui andar muito para aproveitar o dia ensolarado no Rio. Fui para a Biblioteca Nacional e li a maioria das entrevistas do livro Um Rio de Culturas – Vozes da Cidade, publicado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Algumas personalidades, como os jornalistas Roberto Marinho e Ricardo Boechat;  Regina Casé e Chacal, contam como foi a infância naquela cidade.  Os entrevistados reconstroem a cultura do Rio a partir de suas lembranças.  Uma leitura muitíssimo agradável e enriquecedora.  Para Boechat, o carioca de hoje é afetuoso no discurso, mas não é cuidadoso com sua cidade.  Chacal diz que a praia de Copacabana tinha muitas ondas, até que construíram um quebra-mar... "O mar segue maravilhoso, e se hoje Copacabana se tornou um massacre, o mar compensa o concreto da vida”, conclui.  Carlos Moreira de Castro “Cachaça”  relembra o início da história do samba. Segundo ele, a escola de samba era muito odiada, porque era feita de gente muito pobre, de pé no chão, literalmente. “Nem pandeiro havia, era tamanca”. Meu retorno para São Paulo foi tranquilo, e para minha sorte, o visto é válido por cinco anos.
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My passport has arrived from the American Consulate. Getting the visa was rather a difficult task for me. On June 3rd, I planned to fly  to Rio de Janeiro at 7:50 a.m., since I had to be at the consulate at 2 p.m. I arrived at Guarulhos Airport at 7 a.m. The weather was overcast. My flight was canceled and I had to go to Congonhas Airport to take the flight at 12:55 p.m. Thanks to Tatiane, from Infinity Brazil, the agency that takes care of the selective process of those who wish to work on a cruising vessel, people on the consulate would wait for me until 3 p.m.

When I leaved the plane in Rio, I ran, literally, to the taxi rank. I arrived at Infinity in Rio at 2:50 p.m. It was necessary for me to get a letter I should deliver to the consulate. The agency was closed. Closed! The staff on the consulate was very kind to me, and the attendants really tried to help me, but I could not do the interview to get the visa because I wasn't with the letter (which I'd get at Infinity, which was closed, remember?)  I begged, I almost cried and explained that I came from São Paulo, but it did not work. 
 On the following day, I arrived at the consulate at 1:30 p.m. The attendant called me by my name and gave me a password for me to get in. The interviewer was a very polite American man. The conversation went well. Name, age, why are you going to the US? Then he said I had to wait because the system had stopped working. He wore a balance bracelet. I asked if he felt any difference. He said no. "It's a gift from my wife, then, I'd rather wear it", he confessed. "Good husband", I said. "I think it should make a difference for those who believe, but if you don't believe in the effect of these bracelets, it shouldn't work," I told him. He said I was right. And then, the system started working again. "Well, you've got your visa."Returning to São Paulo wasn't so difficult, and to my luck, my visa is valid for five years.










Um comentário:

  1. Amiga vc tinha razão esse dia foi cheio de contratempos!!! Adorei a crônica :) Fê

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