domingo, 19 de junho de 2011

Os bastidores da Guerra do Vietña - Behind the scenes of Vietnam War

Eu hoje conheci o senhor Suck-Hyeun Kim, de 70 anos, que me disse ter lutado na Guerra do Vietña (1959 e 1975). O senhor Kim é sul-coreano e vive no Brasil há 30 anos. Ele entrou para a Marinha da Coreia do Sul em 1960, um ano após ter se formado em Engenharia Agrônoma, e entre 1967 e 1968 ele participou de um dos combates mais sangrentos dos século XX. Até hoje tem "alguns" traumas. 
Suck-Hyeun Kim. Foto: Katiane Rodrigues
A Coreia do Sul era um dos aliados dos Estados Unidos (EUA), que lutava para impedir a unificação do Vietña sob o regime comunista. O conflito envolveu de um lado, o República do Vietnã (Vietnã do Sul), um país capitalista apoiado pelos EUA; e do outro, o Vietnã (Vietnã do Norte), liderado pelo comunista Ho Chi Minh. Bem, os EUA perderam a guerra e saíram do Vietña em 1973. Em 1976, o Vietña foi reunificado sob o regime socialista.
Voltando ao senhor Kim (que significa ouro em Coreano, segundo ele), eu o conheci na Praça da República. Eu estava lendo um texto  exposto em uma das barracas, e o senhor Kim, que não fala muito bem o português, me perguntou se eu poderia traduzir o texto para ele. Nossa comunicação foi em inglês. Ele ficou aparentemente muito feliz por ter encontrado alguém que falasse inglês. Fomos jantar em um restaurante coreano na Liberdade, o Korean House. O jantar, é claro, foi tipicamente oriental: apesar da minha dificuldade, usei os chopsticks e me sentei - descalça - no chão sobre uma almofada fininha. É uma experiência interessante que pretendo repetir, mas depois de uma hora, minhas pernas e pés estavam dormentes. Acho que nossa conversa durou umas duas horas. O senhor Kim disse que depois que deixou o campo de batalha, não conseguia dormir. Demorou uns 10 anos para voltar a ser uma pessoa calma. "Na guerra, a gente tem de estar alerta 24 horas por dia", conta. "Minha função era proteger os meus soldados". Para conseguir descansar ele disse que tinha que tomar Whiskey na época da guerra. Muitos soldados usavam maconha antes do combate, por causa do medo, e para superar os horrores da guerra. Ele se lembra disso emocionado e triste. "Depois que saí de lá, eu não parava de chorar, ficava me lembrando daquelas crianças mortas, perdi muitos amigos também". Outro trauma é a comida. Ele não quis me explicar como eram as refeições (ou como era ficar sem comer), mas disse que até hoje não sente muita vontade de comer, porque se lembra de coisas ruins. "Perdi 50% do meu peso na época, hoje, apesar da idade eu tenho boa saúde". 
Para que seus dois filhos tivessem um futuro diferente, ele veio com a família para o Brasil em 1981, "com apenas 500 dólares no bolso". O senhor Kim está aposentado. Sobre o valor pago mensalmente pela Coreia do Sul ele diz: "Não é muito, mas dá pra levar uma vida decente". Um de seus filhos tem uma loja de acessórios no Bom Retiro. Uma vez tentaram assaltá-los, mas o senhor Kim se sentiu na obrigação de proteger sua família e seus clientes. Reagiu e conseguiu pegar a arma do bandido. "Eu poderia ter matado o assaltante, em legítima defesa, mas pra quê? Eu não queria ver mais gente morta, eu não gosto de briga".

Sr. Kim e eu

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Today I met a man who told me he fought in the Vietnam War, which occurred between 1959 and 1975.  Suck-Hyeun Kim, 70, is South Korean and has been living in Brazil for the past 30 years. He joined the Korean Marine Corps in 1960. In 1967 he fought as a captain in the Navy during the war. He told me that after the war, it took more than 10 years for him to be able to spleep at night. "In the war, we have to be alert 24 hours a day". He also told me that in order to rest or overcome the horrors of war, many soldiers used to smoked marijuana. He would drink the strongest whiskey. "After the war, for years I could not stop crying, thinking of the children who were killed, I lost too many friends." 

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